Logo usada no Brasília Boat Show em 2024
A 2ª edição do Brasília Boat Show, prevista para acontecer no mês de agosto deste ano, foi adiada pela organização do evento. A justificativa é simples: o Governo do Distrito Federal não vai aportar recursos no famoso Grupo Náutica, que além do Boat Brasília, realiza os tradicionais salões náuticos do Rio de Janeiro, São Paulo, Jataí, Foz do Iguaçu e Salvador. O grupo também é responsável pela publicação da Revista Náutica.
Em 2024, por ocasião da primeira edição realizada na icônica Concha Acústica, o evento contou com uma singela participação do público brasiliense. Ainda assim, o GDF aportou cerca de R$ 4 milhões na iniciativa. E, como já é sabido no meio náutico, o empresário Ernani Paciornik, fundador do Grupo Náutica, não entra em negócios para ter prejuízo.
Palestra sobre segurança náutica na Boat Brasília (Foto: JcBertolucci)
Como o evento em Brasília não atraiu muitos estaleiros – ao contrário do que ocorre nos salões náuticos do Rio e São Paulo – e tampouco teve uma resposta expressiva do empresariado brasiliense e goiano, Ernani preferiu não correr o risco de repetir a edição, sem o apoio financeiro do GDF.
João Carlos Betolucci (presidente AsbranauT) e Ernani Parcionik (Presidente Grupo Náutica) em ocasião da feira náutica de Brasília em 2024 (Foto: JCBertolucci)
Esse é o grande problema do Governo do Distrito Federal: a descrença no empresariado local, que, diga-se de passagem, conta com nomes de grande competência e vasta experiência na organização de eventos de porte nacional e internacional. Basta verificar o sucesso dos empresários responsáveis pela R2 Produções, organizadora do consagrado festival Na Praia, para perceber que há expertise e talento de sobra no DF.
Vale lembrar que Brasília possui a 4ª maior frota náutica do Brasil, ficando atrás apenas de polos consolidados como o Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina – o que reforça a vocação náutica do mercado brasiliense.
A capital federal, privilegiada por abrigar um dos lagos urbanos navegáveis mais importantes do país, conta com mais de 12 marinas particulares e outras 10 instaladas em clubes. Esses números são indicativos claros da força e do potencial do mercado náutico local.
Portanto, era imperativo que a Secretaria de Turismo tivesse investido essa vultosa soma de milhões de reais em um projeto náutico com a assinatura do empresariado brasiliense. Infelizmente, ainda persiste uma visão míope de que os profissionais e empreendedores qualificados estão sempre além das nossas divisas.
Visão da estrutura da Boat Brasília 2024 (Foto: JCbertolucci)
Eventos dessa natureza, organizados por empresários locais, teriam maior sensibilidade às particularidades do mercado brasiliense, maior articulação com o público e as instituições da cidade, e, sobretudo, promoveriam a economia da região de forma mais integrada e perene. Além disso, o apoio ao empreendedorismo local fortalece o tecido empresarial do Distrito Federal, gera empregos, estimula o turismo e garante maior autonomia ao setor de eventos.
Público não sustentou as perspectivas dos organizadores (Foto: JcBertolucci)
E não é verdade que não foram apresentados ao GDF projetos similares ao Boat Brasília. O que faltou, de fato, foi que algum desses projetos locais fosse abraçado financeiramente, com a mesma convicção e generosidade com que foi acolhida a proposta do Grupo Náutica – os forasteiros da náutica, além das fronteiras brasilienses.